Comunicação e inclusão podem salvar vidas

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“A inclusão acontece quando se aprende com as diferenças e não com as igualdades” (Paulo Freire).

Uma frase tão perfeita, mas infelizmente ainda longe de ser aplicada. Tenho pensado muito nisso frente aos acontecimentos recentes em um tradicional colégio da zona Sul da capital Paulista. Ao “tentar gerenciar” a crise causada pelo triste suicídio de um jovem aluno bolsista, o Assessor do núcleo de estratégia e inovação do colégio, afirmou que “escola não é clínica de psicologia”. Frase difícil de engolir vindo de alguém tão letrado, justo num momento onde fala-se tanto sobre empatia.

Pedro Henrique era um adolescente pobre, preto e homossexual. Muito diferente do perfil tradicional dos alunos que normalmente frequentam a escola. A bolsa, concedida através de uma parceria com a ONG, foi dada em reconhecimento a suas capacidades intelectuais, que o colocavam acima da média e justificavam o investimento. Mas os colegas de Pedro não estavam interessados em conviver com a diferença e usaram o ódio para demonstrar isso.

Ao contrário do que diz o Assessor do colégio, as instituições que trabalham com jovens, principalmente os que são mais suscetíveis ao preconceito, têm que ter um preparo para criar uma comunicação objetiva contra o bullying. Romper a parceria com a ONG e não dar mais as bolsas, seria um recurso pobre e covarde. Essa é uma hipótese possível, segundo a própria escola.

Uma pena que não tenha entendido que diversidade é uma mistura saudável de vivências e atributos que cada pessoa carrega consigo e podem dividir com outras em diferentes lugares. A interação de diferentes etnias, orientação sexual religião, competências e outros aspectos é algo extremamente rico e ajuda na formação do caráter das pessoas.

Mas não existe diversidade sem inclusão. E, inclusão de verdade, ainda não existe, principalmente em ambientes escolares. Isso exige muitas mudanças, a começar pelo acolhimento. Ensinar que as diferenças existem e têm que ser respeitadas. Criar aquela atmosfera de se sentir bem-vindo diferenças, de verdade. Sem pré-conceitos.

A comunicação assertiva é vital nesse momento. As entidades podem e devem passar por treinamentos feitos por especialistas, para que o exercício da cortesia seja rotina. Isso deixou de ser um benefício e passou a ser uma obrigação, já há muito tempo. O preconceito hoje mata. Com a revolução das mídias sociais, onde tudo é exposto e adotar políticas claras e envolver os alunos é vital.

Crianças e adolescentes têm que entender que bullying é crime. Sobretudo aquele baseado em questões sociais, raciais ou homoafetivas. Deixou de ser uma questão moral. Trata-se da formação do caráter das pessoas que serão responsáveis pela sociedade do futuro. Líderes, educadores, pais, amigos. É evidente que uma comunidade verdadeiramente inclusiva e diversa é mais capaz, pois essa união traz uma força sem precedentes.

Escolas e organizações em geral precisam elaborar projetos eficazes no sentido de misturar talentos múltiplos e fazer com que convivam em harmonia. É direito do cidadão ser respeitado e saber que faz parte do todo. Abaixo, algumas dicas de como a comunicação pode ajudar.

1 – Planejar.

Qual o objetivo do projeto? Qual mensagem quero passar? De que forma farei isso? Como lidar com a possibilidade de um “não engajamento” do meu público? Como estabelecer uma comunicação estratégica que envolva todos os cuidados para que a mensagem seja clara?

2 – Passar confiança.

Meu público conhece, efetivamente os valores relacionados ao tema? Os valores de minha instituição estão de acordo com a ação que quero promover?  

3 – Criar canais de ouvidoria.

Canais de denúncia e dúvidas, caso as novas políticas não estejam sendo cumprida. Acolhimento por profissionais capacitados àqueles que se sentem desrespeitados. Agilidade no reforço às consequências dos atos praticados.

4 – Comunicação acessível.

Informações têm que ter acesso fácil. WhatsApp, e-mail, cartazes, grupos de treinamento, depoimentos reais, representações. Usar Storytelling é uma das formas mais claras de “tocar” o público alvo.

Enquanto grandes entidades não considerarem esse assunto urgente e de utilidade pública, corre-se o risco de outros Pedros estarem expostos à discriminação asquerosa, que leva à morte. E muitos outros perderão a oportunidade de se beneficiar de incentivos que podem mudar o rumo de suas histórias. É uma questão de oportunidade. Comunicação bem feita salva, reconhece, engrandece. Pense nisso.

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