Saiu na mídia: o Deputado Estadual Cristiano Caporezzo (PL-MG) propôs um projeto de lei que visa proibir tentativas de atendimento hospitalar para bebês reborn, com punição de multas de até 10 vezes o valor do serviço prestado. Imagino que nunca, nenhum jornalista pensou que isso um dia seria notícia. A essência da comunicação, que é verificar fatos e transmitir conhecimento, passa longe de assuntos desse gênero.
Mas, precisamos dar atenção a uma espécie de “surto coletivo”, que levou uma mulher a procurar consulta no SUS, para seu reborn que “estava com febre” ou uma outra a procurar uma advogada especializada em direito de família para ajudar a resolver a guarda compartilhada da boneca realista com seu namorado, com quem viveu por cinco anos – período em que adquiriu o brinquedo.
Entre tantos outros casos que, de repente, começam a aparecer na Internet, nós jornalistas passamos a dar importância ao tema, já que isso pode ser considerado um caso de afeto mal resolvido ou não trabalhado em cidadãos que precisam de apoio psicológico/psiquiátrico.
Em tempo de vídeos virais com conteúdo vazio, crianças e jovens que não vivem sem um celular, influencers que fazem tudo por dinheiro e a mão mais que direcionada no botão ativar em gente que, facilmente, se deixa levar por promessas falsas de ganharem milhares de reais em apostas nos Tigrinhos e Bets da vida, a comunicação bem direcionada e acessível a todas as classes sociais e níveis de conhecimento, o trabalho de informação do jornalista é mais atual e necessário do que nunca.
Exemplo é o caso recente de Virginia Fonseca, que tem sob sua responsabilidade a influência sobre milhões de pessoas e chega para depor na CPI das Bets com seu look infantilizado, óculos rosa de professora primária e estampa da filha na camiseta, diferente das milhares de fotos que exibem sensualidade, abdômen chapado, dicas de beleza e ostentação de seu extenso patrimônio.
O motivo de tudo isso? Campanhas publicitárias para casas de apostas online, utilizando seu dom de influenciar para convocar mais viciados em jogos e inocentes que acreditam de verdade nos ganhos. A convocação de Virgínia se deu ao seu envolvimento em campanhas publicitárias para casas de apostas online e à sua significativa influência no ambiente digital, sem necessariamente utilizar a ética.
Os assuntos Bets, Virginia e bonecos reborn são o tema desse texto, porque envolvem um grande direcionamento de profissionais da comunicação que tentam, da maneira mais lúdica possível, explicar que existe uma grande dose de psicologia, fantasia e inocência quando se acredita ser uma mãe reborn ou se crê demais da sorte dos jogos de azar, bem como a opinião de pessoas que “influenciam” sem nenhuma responsabilidade.
Então, aos meus colegas de profissão, que hoje estão noticiando fatos como: Padre se nega a batizar bebês reborn; Virginia canta a música do Tigrinho ao vivo em um canal de YouTube ou o quanto as famílias vêm se endividando para jogar online, reforço minha sincera admiração, já que uns são casos psiquiátricos, outros policiais, mas todos com o mesmo comprometimento com a verdade. Afinal, em uma sociedade adoecida, carente de educação de qualidade e facilmente seduzida por promessas milagrosas, o papel do jornalismo responsável é mais vital do que nunca.